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29/08/2013
A Ocupação Esperança, em Osasco
A Ocupação Esperança, em Osasco, vem crescendo diariamente e já conta com 500 famílias que, cansadas de esperar que seu direito à moradia venha das mãos do Estado, resolveram concretizá-lo por conta própria. As famílias, cerca de cem no início, entraram no terreno particular do bairro Santa Fé, próximo à rodovia Anhanguera, na madrugada de sábado (23) e ergueram seus barracos de bambu e lona uma vez mais. Agora, o espaço já conta com uma cozinha coletiva equipada de fogão e pia, um banheiro coletivo, e uma horta sendo construída. O acampamento se dividiu em grupos de trabalho de limpeza, infraestrutura e abastecimento, e as assembleias, instâncias últimas de deliberação do movimento, acontecem diariamente às 18h. Anésia tem 57 anos e desde 1973, aos 16, saiu de Minas Gerais para viver em Osasco. Em volta da fogueira, que tem aliviado essas noites frias de agosto, conta que não se conforma com a visão que alguns tem de que fazer ocupação para lutar por moradia é “coisa de criminoso”. “Crime é não ter posto de saúde com médico, crime é tirar o emprego dos outros, crime é não ter onde morar”, afirma, ao dizer que “não arreda o pé da luta do povo”. Professora de artesanato e uma das líderes comunitárias da Vila Menk, Anésia ressalta que a situação para a maioria que ali vive, é de escolha entre pagar aluguel ou comer. “Não temos mais programas como por exemplo o ‘Viva Leite’ para as crianças e os idosos. No momento só estou conseguindo pagar aluguel com a ajuda dos meus amigos, e estou vendendo DVD para botar pão na minha mesa”, relata. “Sem moradia e sem emprego, tiram nosso direito de viver”. A Vila Menk é uma das muitas comunidades da redondeza das quais as famílias que hoje compõem a Ocupação Esperança estão vindo. Bairros como Jd. Aliança, Parque Bandeirantes, Jd. Dávila, Jd. Santa Fé, Jd. Santa Rita e Jaguaré são outros cheios de gente que não suporta mais o alto preço do aluguel ou a necessidade de morar de favor. “Como sou um dos milhares que paga aluguel, estou junto nessa luta desde a outra ocupação”, diz Vagner, morador de Osasco há 30 anos. Nos últimos dois meses essa é a terceira ocupação feita pelo grupo, que conta com o apoio do Movimento Luta Popular. Depois de dois despejos, conseguiram uma reunião com a prefeitura que solicitou um cadastro das famílias e deu a promessa de que tomaria providências. Os cadastros foram entregues. A resposta e as providências, nada. Veio, então, a terceira ocupação. Visitas e ameaças de despejo por parte da Polícia Militar e da Guarda Civil Municipal foram várias desde sábado (24). Houve momento, inclusive, em que alegando sem qualquer prova que o terreno seria público, a GCM afirmou que faria o despejo usando “as forças que fossem precisas”, a despeito da grande quantidade de idosos e crianças. “No fim da tarde, no entanto, se retiraram”, explica nota publicada pelo movimento: “Talvez por falta de provas de que o terreno é público, talvez pela intimidação causada a eles pelas câmeras da TV Brasil e TV Band que registrariam o escândalo que seria a força pública, da prefeitura de Jorge Lapas, agir na ilegalidade ao fazer um despejo em defesa de uma área particular (cujo proprietário nem entrou nem solicitou ainda qualquer mandado judicial)”. Apesar das visitas diárias das forças policiais, por enquanto a ocupação só vem se fortalecendo. A assembleia, nessa terça-feira (27), contava com cerca de 1000 pessoas. Além disso, foi feito um panfleto explicando o que é a Ocupação Esperança e convocando quem quiser para somar, a ser distribuído pela vizinhança. A Ocupação Esperança já recebeu visitas de solidariedade e apoio de grupos como Movimento Terra Livre, MST, CMI, Mídia Negra, Luta Popular do Rio de Janeiro, Sintrajud, Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Sindicato dos Químicos de Osasco e Oposição da Apeoesp de Diadema. “Osasco cresceu muito rapidamente, muitos migrantes nordestinos vieram para cá na busca por trabalho na década de 1980 e a cidade transformou-se em um pólo industrial”, reflete Victor Brederode, também na ocupação desde o começo. “Casa aqui é um grande negócio. E o povo não consegue nem pagar aluguel”. “Algumas pessoas, cansadas de ver todo esse sofrimento e também inspiradas pelas manifestações que tomaram conta do país, tiveram esse despertar na consciência para lutar”, conta. “E já tinha alguns mapeando a possibilidade de fazer luta direta por moradia. Aí juntou a fome com a vontade de comer: uns com força de vontade, outros com experiência, e unimos forças para lutar”. Para Victor, o processo está sendo “de grande aprendizagem”: “O movimento está mostrando que através da união conseguimos fazer a luta”. “A comunidade está encostando, começando a deixar de preconceito e nos vendo como guerreiros, trabalhadores lutando por uma vida digna”, aponta, ao lembrar que o acampamento vem recebendo doações da vizinhança, que está trazendo comida, vela, lona. O movimento está organizando uma grande atividade cultural no sábado.