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O dia 25 de julho marca o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. No Brasil, a data é também Dia de Tereza de Benguela, líder quilombola que se tornou rainha, resistindo bravamente à escravidão por duas décadas.
A data tem origem no 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas realizado em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992. Já no Brasil, o dia de Tereza de Benguela foi instituído em 2014.
Ao longo dos anos, a data vem se consolidando no calendário de luta do movimento negro e tem resgatado a luta e a resistência das mulheres negras, bem como cumprido o papel de denunciar as consequências da dupla opressão que sofrem, com o racismo e o machismo.
Para Claudicéa Durans, militante do Movimento Quilombo Raça e Classe, lembrar o dia 25 de julho ajuda a discutir e denunciar a invisibilidade, estigmatização, indiferença e desumanidade a que foram submetidas as mulheres negras desde os tempos da escravidão e que trazem consequências até os dias atuais.
“Afastada de seu lugar de origem, por conta do tráfico, a mulher negra desde os tempos da escravidão foi condicionada aos trabalhos pesados, seja na lavoura, nas vendas em condição de escrava, ama-de-leite ou na prostituição. Foi tratada de maneira desigual e isso a distingue de outras mulheres”, explicou.
“Passados 129 anos da abolição, a mulher negra ainda vive na base da pirâmide social, sendo maioria no trabalho doméstico, no trabalho terceirizado, informal e temporário, com os piores salários”, disse.
Claudicéa destaca ainda o impacto da violência sobre as mulheres negras, pois, a violência tem cor, raça e classe. “O racismo se materializa de diversas formas, contudo a forma mais desprezível é a aniquilação dos corpos negros: extermínio, assassinatos, limpeza étnica, encarceramento, violência e estupros”, disse.
De acordo com o Mapa da Violência de 2015, entre 2003 e 2013, aumentou em 54,2% o número de assassinatos de mulheres negras, enquanto, no mesmo período, houve diminuição de 9,8% para as mulheres brancas.
A militante do Quilombo Raça e Classe destacou ainda outros aspectos como a situação de violência a que são submetidas as mulheres no Haiti, por exemplo. “Após 13 anos de ocupação militar comandada pelo Exército brasileiro o resultado é miséria, violência e estupro. Foram mais de 2000 casos envolvendo soldados brasileiros”, disse.
Outro dado ressaltado é o lugar do Brasil no ranking de encarceramento. Somos o quinto país com a maior população de mulheres encarceradas. “Quase dois terços da população penitenciária feminina é negra e jovem, 68% dos casos relacionados ao tráfico de drogas. Esse encarceramento em massa é uma política de controle social, uma política de segurança pública baseada na repressão, construção de presídios e privatização do sistema prisional onde se lucra com cada preso”, afirmou Claudicéa.
Potencializando os efeitos do machismo com o racismo, a erotização e apropriação do corpo, também fruto de séculos de escravidão, também estigmatiza a mulher negra.
Mais afetadas pelas reformas do governo Temer
Em meio à verdadeira guerra social do governo contra os trabalhadores, com reformas que praticamente destroem os direitos e medidas que pioram ainda mais as condições de vida do povo pobre, são também as mulheres negras as mais prejudicadas.
“Não é preciso muito esforço para chegar à conclusão que as mulheres negras, localizadas nos postos de trabalho mais precários, é que ficarão ainda mais vulneráveis aos desmandos dos patrões, transformados agora em lei com a Reforma Trabalhista. Ou ainda, que 40% das mulheres negras que são chefes de família, muitas das quais sobrevivem apenas com o benefício da Previdência, é que também serão as mais afetadas com a reforma que acaba com a aposentadoria”, disse Claudicéa.
Mulheres negras aquilombadas
Mas, se de um lado, a opressão recai com muita força sobre a mulher negra, o dia 25 de julho também remete ao resgate e reconhecimento do papel protagonista das negras nas lutas, movimentos sociais e culturais ao longo da história.
Um exemplo é a atividade guerreira, que desde os tempos coloniais mulheres negras estavam à frente, dirigindo quilombos. Mulheres como Dandara, Tereza de Benguela e Luiza Manhin e muitas outras que mostraram que a luta contra o racismo é uma luta contra a classe dominante e nessa luta buscaram a unidade de classe com os indígenas e brancos pobres.
A luta por reparações e contra o capitalismo
No Brasil, combater o racismo passa necessariamente por compreender a ligação com o machismo e o conceito de classe, e a necessidade de destruir o sistema capitalista que se aproveita de tudo isso.
Como medidas transitórias, outra reivindicação do movimento é por políticas de reparações, com plano de ações concretas que garantam, a negras e negros, o acesso à educação, emprego, saúde, renda, moradia, transporte, enfim, condições dignas de vida, sem discriminação e opressão.
Quem foi Tereza de Benguela
Tereza de Benguela é considerada uma grande guerreira mato-grossense e símbolo da resistência negra no Brasil colonial. Uma liderança quilombola que viveu no século XVIII, companheira de José Piolho, que chefiava o Quilombo do Quariterê, nos arredores de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso.
Quando José Piolho morreu, Tereza assumiu o comando daquela comunidade quilombola e liderou levantes de negros e índios em busca da liberdade revelando-se uma grande líder.
Apesar da pouca representatividade na história oficial do país, Tereza é comparada ao líder negro Zumbi dos Palmares, a “Rainha do Pantanal” do período colonial.
Reprodução: CSP-CONLUTAS