NOTÍCIAS


01/11/2016
Dívida, o novo pesadelo

FMI admite não ver saída para a crise global. Michael Hudson explica: peso dos juros paralisa economias, exaure sociedades e amplia riscos de retrocessos.

Saberemos enfrentar a aristocracia financeira?  Detalhes dessa reportagem veja aqui: http://outraspalavras.net/destaques/a-destruidora-democracia-da-divida/

 

Como era de esperar, os jornais e TVs da velha mídia nada noticiaram. Em sintonia com o governo Temer, estavam ocupados em demonizar o tímido gasto social do Estado brasileiro. Mas em 5 de outubro, um novo relatório do FMI sobre a estabilidade financeira global lançou o alerta. Apesar de irrigado, desde 2008, por seguidas operações de “salvamento”, sempre com dinheiro público, o sistema financeiro internacional não se recuperou.

Embora a grande tempestade tenha passado, “os riscos de médio prazo continuam a crescer”. E — mais intrigante — mesmo no caso de uma recuperação sustentada das economias (algo que não parece próximo), os problemas não estarão sanados.

Dias depois de lançado o relatório, o economista norte-americano Michael Hudson analisou-o, em entrevista à rede de webTV independente “The Real News“. Dedicado há décadas ao exame do sistema financeiro, colaborador de dezenas de publicações e consultor de governos como os da Grécia, Islândia e China,

Hudson tem uma visão particular sobre o papel das dívidas, nas sociedades capitalistas contemporâneas. Segundo ele, o pagamento de juros tornou-se, na época pós-industrial, um fator crucial de extração de mais-valia e, portanto, de ampliação das desigualdades.

Hudson vê no relatório do FMI o reconhecimento de um ponto de impasse. O endividamento dos Estados e das famílias tornou-se tão vasto e opressor que passou a comprometer a própria dinâmica de reprodução do capital.

Tanto os salários quanto a receita de impostos são permanentemente corroídos pelas transferências aos banqueiros e à aristocracia financeira. Em consequência, a capacidade de compra despenca. Os investimentos estancam. A criação de empregos e ocupações retrocede. Forma-se uma espiral descendente, que bloqueia as economias.

Pior: para sair do impasse, a aristocracia financeira procura, permanentemente, avançar sobre as conquistas cidadãs. Calcula que os Estados devem reduzirem o gasto social — para tornarem-se capazes de pagar mais juros… Aí está a origem das políticas de “austeridade”, da devastação do Estado de Bem-estar social na Europa e, no Brasil, de propostas como a PEC-241, que estabelece o congelamento das despesas não-financeiras do Estado.

Como escapar desta maré anticivilizatória? Em tempos anormais, é preciso propor o incomum.

Hudson vê uma alternativa — pouco debatida, mesmo entre a esquerda. Ele defende políticas que promovam uma redução radical das dívidas e dos pagamentos à aristocracia financeira.

O relatório do FMI jamais proporá algo com este sentido, zomba o economista. Mas ele mesmo provoca: enquando não houve coragem e força política para tal passo, permaneceremos sujeitos à estagnação, a crises e à ameaça de retrocessos. Fique com a entrevista (Antonio Martins) 

Matéria completa: http://outraspalavras.net/destaques/a-destruidora-democracia-da-divida/