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12/06/2017
Diretas e Direitos

Por Guilherme Boulos

Temer cumpriu a promessa de unificar o país: quase todos são contra o seu governo

 

   Após o colapso do governo Temer, com a divulgação do escândalo da JBS, iniciou-se a construção de um amplo movimento em defesa da antecipação das eleições no País. Atos político-culturais no Rio de Janeiro e em São Paulo levaram milhares às ruas, expressando um sentimento majoritário na sociedade brasileira. Antes mesmo dos áudios de Joesley, pesquisa Datafolha já havia apontado que 85% da população defendia as Diretas Já. Agora, segundo o Vox Populi, são 89%.

 

    Temer, de fato, cumpriu a promessa de unificar o País. Havia apenas esquecido de mencionar que a unidade seria de quase todos contra seu governo. Mesmo na coalizão que bancou o golpe e sustentou Temer até aqui as fissuras estão a nu. Parte da grande mídia – liderada pela Rede Globo – já desembarcou. A base parlamentar, evidentemente, já não é mais a mesma. E o próprio empresariado começa a pensar em plano B. 

    Neste cenário, a luta pelas Diretas ganha muita importância. A entrada de artistas de grande expressão social no movimento permitiu que as manifestações ecoassem para além das fronteiras da esquerda organizada.

    Os últimos dois domingos mostraram isso, com a experimentação de outra linguagem na manifestação: mais expressões culturais e menos falatório. Os eventos não foram despolitizados por isso, ao contrário do que sugeriu apressadamente parte da própria esquerda.

    É evidente que o momento exige cuidado para que as nossas manifestações não reproduzam a antipolítica ou o antipartidarismo. Mas o formato dos atos – ainda que com contradições próprias de qualquer novidade – buscou esse equilíbrio entre amplitude e politização. O sucesso do Rio e de São Paulo já estimulou eventos em várias outras cidades já para estes próximos dias.

    Ao mesmo tempo, ocorreram os primeiros movimentos para viabilizar uma Frente Ampla pelas Diretas, com a participação de dezenas de entidades sociais, religiosas e jurídicas, além de partidos políticos.

   Nessa unidade, entretanto, há um ponto que deve ser inegociável: a bandeira do combate às reformas da Previdência e trabalhista. Não se trata apenas de enfrentar um governo, mas, sobretudo, de derrotar sua agenda de destruição de direitos.Essa articulação, juntamente com as iniciativas dos artistas e produtores culturais, poderá vocalizar o anseio da maioria do povo por uma saída democrática à crise política, que seja capaz de – por meio de fortes mobilizações – derrubar o governo Temer e rechaçar a alternativa infame de eleição indireta por este Congresso.

   Se a bandeira das Diretas não estiver associada a isso, perde o sentido desde o ponto de vista popular. Tanto mais quando vemos o Senado, em meio ao furacão, avançar sem pudores na aprovação da reforma trabalhista.

   Além disso, o porcentual da população que rejeita as medidas é quase o mesmo que desaprova Temer e defende a antecipação das eleições. Isso nos deve levar a combinar iniciativas como os atos político-culturais, com maior protagonismo dos artistas, com mobilizações sociais mais contundentes, em especial a nova greve geral marcada para o dia 30 deste mês. A defesa das Diretas precisa estar no mesmo plano da defesa dos direitos.

   Há três caminhos políticos diante da crise atual: ou Temer consegue recompor sua base de apoio e fica até 2018; ou Temer cai e o Congresso elege o presidente por via indireta; ou, ainda, a mobilização popular cresce – com atos e a greve geral – sendo capaz de derrotar o governo e pressionar pela antecipação das eleições.

   Dessas três alternativas, aquela que representa as melhores condições para barrar a agenda de retrocessos é a terceira. Se o povo for chamado a decidir, seguramente rechaçará o projeto das reformas. Isso não assegura que ele seja enterrado de vez, mas representaria um duro revés.

   Nossos problemas não serão resolvidos magicamente. A bandeira das Diretas, é claro, tem seus limites na medida em que o que está derretendo não é apenas o governo Temer, mas o sistema político da Nova República.

   Não haverá saída popular para a crise que não passe por uma profunda democratização do Estado brasileiro. Mas, atualmente, a combinação Diretas/Direitos é a bandeira com maior capacidade de construir maioria social para barrar quaisquer retrocessos. 
 


Reprodução: CartaCapital