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24/11/2015
Seminário discutiu novos rumos para organização dos servidores federais

Não é de hoje que os servidores federais de todo país questionam a maneira com que a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (CONDSEF) vem conduzindo a  representação dos trabalhadores do serviço público junto ao governo  e nas campanhas salariais.  Para muitos, o atual grupo que administra a entidade tem proximidade política com o governo federal, o que leva  a uma descaracterização da real funcionalidade da representação dos trabalhadores nas mesas de negociação.

Após uma campanha salarial, em 2015, marcada pela clara desmobilização da CONDSEF para greve, o que levou a uma redução da pressão negocial com o Ministério do Planejamento e uma, consequente,  redução nas conquistas  para os trabalhadores,  ficou evidente o descontentamento dos trabalhadores com a maneira com que a CONDSEF conduziu o processo negocial.

 Ainda durante a greve, os servidores da base do SINTSEF/RN aprovaram uma moção de repúdio à entidade nacional por não construir a greve. “[Repudiamos] à CONDSEF por não envidar os esforços necessários na orientação de suas filiadas na construção de uma greve forte, organizada, unificada, se limitando apenas a incentivar movimentos e paralisações, forma encontrada para blindar o governo, que tem demonstrado o seu intento de atacar @s servidor@s federais, aplicando o ajuste fiscal e  terceirizações”, dizia o texto. 

O sentimento evidenciado durante toda a campanha salarial só cresceu e muitos outros grupos demonstraram descontentamento com a burocratização da entidade nacional. A partir disso, sindicatos de várias partes do Brasil resolveram construir unidade em torno de alternativas para a representação dos trabalhadores federais. Assim, nos dias 20 e 21 de novembro, aconteceu em Natal, na sede do SINTSEF/RN, o primeiro Seminário Nacional d@s Servidor@s Públic@s Federais. "A importância desse seminário é de construir e organizar o grupo da oposição e fazer crescer um polo de mudança dentro da categoria dos servidores federais", afirmou Gizélia Rocha, coordenadora geral do SINTSEF/RN, no início das atividades do seminário.

Além do Rio Grande do Norte, com a presença de servidores de diversas regiões do estado, estiveram presentes servidores e representações sindicais de São Paulo e do Ceará. Já na mesa de abertura, um debate importante foi feito: a discussão sobre o atual momento político que atravessa o país e como os servidores federais devem se organizar na defesa dos seus interesses contra os ataques cotidianos  da burguesia e da política de cortes do governo. Outro debate que chamou atenção dos servidores no primeiro dia de evento foi o que tratou das perspectivas para os servidores públicos no próximo período, onde falou-se da necessidade de fortalecer a mobilização da oposição de esquerda numa perspectiva de defesa dos direitos trabalhistas já conquistados.

 

Uma das mesas mais esperadas fez um balanço da greve e discutiu alternativas para a oposição à direção da CONDSEF. “É crucial para que a gente não colecione mais derrotas, que os sindicatos que não estão ligados ao governismo eles se juntem, por isso saudamos como positiva a realização desse seminário, achamos que a nossa solução para que tenhamos um calendário de vitorias passa pela unidade da classe para combater o governismo que hoje dirige à CONDSEF”, afirmou Carlos Daniel, servidor do IBAMA, que veio junto com a  delegação do SINTSEF/SP para participar do Seminário.

Muitas falas durante o evento saudaram o momento histórico que acontecia em Natal,   como um primeiro passo importante para  a mudança de perspectiva na organização dos servidores federais. “Esse é um momento histórico, um encontro nacional da oposição à direção da CONDSEF, e o significado desse momento é de pontapé inicial de articulação dessa oposição de esquerda para os servidores públicos federais em todo país. A CONDSEF hoje é uma correia de transmissão do governo, faz o que o governo quer, por isso nos estamos propondo o fortalecimento desse campo da oposição”, afirmou Valério Fonseca, assessor político do SINTSEF/RN.

Outros participantes citaram que a postura de proximidade da CONDSEF com o governo levam a uma crise de representatividade entre os servidores federais  “É de suma importância seminários como esse, pois estamos no caminho de tentar organizar essa oposição nacional a direção majoritária da CONDSEF, é importante porque essa aproximação vai afunilar a uma prática, um discurso e a uma organização dos servidores públicos que ainda estão meio perdidos com essa crise de representação sindical esta ocorrendo” concluiu Luciano Filgueiras representante da direção do SINTSEF/CE e do “Mobilização, Compromisso e Luta” – movimento de oposição à direção majoritária do Sintsef/CE 

Debatendo opressões

Entendendo que qualquer processo de organização de alternativa não pode negligenciar a construção mais igualitária das lutas dos trabalhadores e trabalhadoras, um dos espaços do seminário debateu o assédio moral no serviço público e as lutas contra as opressões. Relatos contundentes lembraram o quanto é comum dentro do serviço público a ausência de mulheres nos cargos de direção e chefia e as disparidades salariais entre trabalhadores brancos e negros, lembrando sempre um recorte classista de debate, ao relacionar todas essas opressões como práticas indissociáveis do capitalismo e que a busca por uma sociedade mais justa e igualitária só acontecerá coma  superação desse sistema de exclusão.

 

Seminário termina com aprovação de documento

No dia seguinte, os participantes do seminário realizaram uma plenária final onde aprovaram um documento com vários pontos para construção um movimento nacional de oposição na base da CONDSEF, com intuito de discutir os rumos do funcionalismo público federal, frente à política governista da direção da entidade e construindo uma ferramenta alternativa e uma oposição à direção governista da CONDSEF.

Entre os pontos aprovados está que o movimento terá como nome “Muda CONDSEF”, “O Muda CONDSEF terá como princípio de atuação o respeito às decisões da base e seguirá o caminho da luta e na defesa intransigente dos direitos e reivindicações d@s servidor@s públic@s federais, na base da CONDSEF”, diz o documento. Além disso, ficou aprovado formar uma Coordenação Nacional do Movimento Muda CONDSEF, composta por dois representantes de cada sindicato ou minoria de direção e um representante por oposição nos Estados. Outra deliberação importante  retirada na plenária final foi a realização de um novo seminário, em São Paulo,  para articulação da oposição, com data prevista para os dias 08 e 09 de abril de 2016.